"Y con sus ecos süaves, las aves;
Y con sus dulces corrientes, las fuentes;
Y con claúsulas de olores, las flores;
Y con sus verdes gargantas, las plantas."
Sóror Juana Inés de La Cruz
O prazer de passar um final de semana no Portal da Paz compensou todos os nossos esforços. Foram momentos marcantes desde a chegada até o encerramento do evento, que tinha como tema principal a meditação. Eu justamente estava procurando algo que me ajudasse a desligar de todos os problemas e situações do meu dia-a-dia.
Aprender o exercício da meditação foi fundamental para conseguir dar um passo para trás, um passo para dentro, um passo nas profundezas, e despertar minha consciência para partes desconhecidas de mim mesmo. Partes estas que estão menos condicionadas por nossa educação e por nossa sociedade, e que por isso mesmo podem restabelecer nossa sensibilidade e “sentido de ligação” com Deus e com as forças criativas manifestadas na natureza.
Após o encerramento do seminário, eu guardava a certeza de que algo havia mudado dentro de mim. O seminário pareceu ter-nos proporcionado conquistar o júbilo de escutar os ensinamentos ocultos, no grande e misterioso silêncio das coisas.
Diga-se de passagem, os elementos mais simples ganharam extraordinária significação aos nossos olhos. Era como se novas expressões de indefinível beleza se revelassem a eles. Agora, parecia sempre haver algo acontecendo para nos encher os olhos de brilho e o coração de esperança.
Eram exatamente 18h30min quando nos despedimos do Portal da Paz. Após três dias intensos de programação, foi possível ver no rosto de Cristiany, a motorista do carro, e Jurema, sua amiga, o refazimento que aquele ambiente de silêncio e preenchimento interior propiciava à alma humana.
Retornamos pela mesma estrada de terra, o mesmo chão batido, as mesmas pedras, em meio aos vales, colinas e altas montanhas, que caracterizam a região. Eu sinceramente encontrava-me em paz, enquanto Cristiany comentava suas experiências. Meu pensamento viajava longe.
Afundei-me no banco do carona a contemplar a imensidão da paisagem que culminava com o início da noite e término do dia. Um pintor renascentista teria boa inspiração diante de tal quadro natural que agora se desnudava diante de nós.
A lua cheia voltava a exibir seu brilho e magnificência, contrastando com o fundo azul escuro do anoitecer. Nuvens semelhantes a plumas de algodão produziam encantador espetáculo, cujo preço é impossível catalogar nas convenções humanas, diante de tal expressão artística criada pela Soberana Inteligência do Universo.
Ao mesmo tempo, no outro extremo do horizonte, um céu vermelho alaranjado despedia-se de nós, num verdadeiro show de cores e brilho. Nesse momento, vi meus pensamentos e emoções caírem, lentamente, quais folhas mortas no chão. E eu já não sabia dizer se se passara um minuto ou uma hora, pois era como se o tempo estacionasse e toda a criação deixasse de respirar.
O carro seguia seu curso em meio ao silêncio natural que nos impelia à meditação. Quem de nós três poderia dizer o que se passava naquele instante? Apenas seguíamos o curso da estrada, embebidos em tal experiência.
Parecia que tínhamos encontrado um espaço de silêncio e quietude dentro de nós mesmos, onde havia a nítida sensação de escutarmos notas harmoniosas de uma doce melodia, sem que, todavia, nenhum som fosse emitido. Este era o som do divino, capaz de ser captado pela experiência do silêncio profundo.
Repentinamente, porém, um gavião corta o ar e decide acompanhar o carro, trazendo nossa atenção de volta à rota. Voou, ainda, alguns metros em nossa companhia e depois buscou outro rumo. Sim, pensava eu, o caminho interior trazia naturalmente nossa re-ligação à terra, ao ar, à água e ao sol. Elementos sagrados da natureza e servidores fiéis dos destinos humanos.
O presente do Pai Celestial é dado diariamente àqueles que buscam o conhecimento interior da verdade, cuja palavra brilhante pede nossa atenção aos valores eternos do espírito, e o prestígio constante aos bens que nos são oferecidos pelo Artista Supremo.
A todos aqueles que, assim como eu, ainda trazem nas sandálias da lembrança a poeira das dores do mundo, recomendamos um final de semana de restabelecimento e preenchimento interior, no Centro de Retiros Portal da Paz. Merecemos ser felizes!
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